Extraído de : https://educostamd.wordpress.com
Existe uma grande confusão entre não médicos, em relação a todos esses nomes. Vou tentar ajudar a esclarecer isso.
ITE, quando colocado no final de um termo, significa, na linguagem médica, inflamação. Dessa forma, rinite é a inflamaçào nasal, celulite é a inflamaçào do tecido adiposo que fica abaixo da pele, colite é a inflamação do cólon (intestino grosso), e bronquite é a inflamação dos brônquios, que são as grandes e médias vias aéreas (os tubos que levam o ar para dentro e para fora dos pulmões, durante a respiração).
Existem vários tipos de bronquite, dependendo dos fatores causais, dos mecanismos que causam e mantém o processo inflamatório, e da duração do problema (agudo ou crônico). Desta forma existe:
– a bronquite viral, caracterizada por tosse, dor no peito, catarro branco e que pode se iniciar exatamente como os resfriados e gripes, durando alguns dias ou poucas semanas (por isso é uma bronquite aguda), e tende a evoluir para cura sem uso de antibióticos, pois o próprio sistema imunológico do indivíduo acaba eliminando os vírus causadores da inflamação;
– a bronquite bacteriana, que geralmente surge como complicação de uma bronquite aguda viral, quando a sua duração é mais prolongada, e o catarro torna-se amarelado ou esverdeado, podendo ter febre, e só melhora com o uso de antibióticos, pois nesse caso há a presença de bactérias no revestimento brônquico causando e perpetuando a inflamação;
– a bronquite crônica, aquela que evolui por meses ou anos, com tosse recorrente, e que, na maioria das vezes, é causada por poluentes externos. Nesse caso, o grande exemplo é a bronquite tabágica, ou do fumante, onde a fumaça do cigarro causa lesões repetidas a várias células que revestem os brônquios. Essa bronquite do fumante facilita a ocorrência das infecções bacterianas, podendo então sobrepor-se a ela bronquites bacterianas com maior frequência;
– a bronquite alérgica, que ao pé da letra significa a inflamação crônica dos brônquios de causa alérgica. Ora, isso é o que chamamos de asma brônquica. Muitas pessoas, e até mesmo alguns médicos, utilizam o termo bronquite como sinônimo da asma. Em parte por desconhecimento desta classificação, em parte para evitar o uso do termo asma, que muitas vezes soa como algo muito grave e de difícil tratamento, ou mesmo porque o termo bronquite é muito difundido na nossa sociedade de longa data, e ele vai passando de geração em geração entre pais e mães, que acabam utilizando-o de forma errada. O melhor é usar e assumir o termo asma brônquica, pois assim tanto o paciente com asma quanto o médico que está dele cuidando terão maior atenção nesse tratamento, alcançando melhores resultados.
Na verdade, a asma brônquica, é uma das formas mais comuns de inflamação crônica dos brônquios (bronquite), pois acomete cerca de 5% da populaçào em geral (chegando a 10% nas crianças). Ela tem carcterísticas peculiares, que as diferenciam das outras formas de bronquite. Por exemplo, cerca de 80% da doença crônica asma é de causa alérgica (em crianças isso chega a 90%). Uma minoria de casos de asma crônica está associada apenas a fatores não alérgicos, como poluentes, odores fortes, infecções virais, mudanças climáticas e exercício físico. A grande confusão é que, também na asma alérgica, que é a maioria dos casos, esses fatores não alérgicos desencadeantes de crises também atuam. Em outras palavras, o asmático alérgico (a maioria), tem como principal causa de sua asma a resposta alérgica aos fatores ambientais (da poeira = ácaros, animais domésticos, fungos e insetos), mas eles também reagem de forma exagerada, ou hiperreativa, aos fatores não alérgicos citados anteriormente. A via aérea dessas pessoas, já inflamada por causa da resposta alérgica repetida nos brônquios, fica hiperreativa. Em crianças, inclusive, é muito frequente o desencadeamento de crises de asma por infecções virais (resfriados, gripes e até mesmo bronquites virais).
Mas qual a diferença entre asma brônquica (doença crônica) e crise de asma ? Podemos dizer que a crise é apenas "a ponta do iceberg" que estamos vendo. A crise representa o agravamento súbito da inflamação dos brônquios associado a uma resposta característica dos músculos que envolvem esses canais ou dutos de ar. Quando esses músculos se contraem em resposta a um daqueles fatores desencadeantes citados (alérgicos ou não), ocorre o que chamamos de broncoespasmo (espasmo ou fechamento dos brônquios). Esse fenômeno é o responsável pela tosse, chiado e sensação de falta de ar característicos da crise de asma. Entretanto, mesmo quando não está ocorrendo uma crise dessas, e a pessoa está se sentindo bem, há uma inflamação crônica e persistente no tecido que reveste os brônquios, que chamamos de mucosa brônquica.
Diante desses conhecimentos, que vêm crescendo nas últimas 3 décadas, na atualidade não é mais admissível, o tratamento exclusivo das crises de broncoespasmo, sem um tratamento global que melhore as condições ambientais onde o asmático vive e trabalha (vide o texto medidas de controle ou higiene ambiental), e que controle o processo inflamatório crônico que persiste nas vias aéreas mesmo fora das crises e que, na verdade, é a parte maior do problema, assim como a parte do iceberg que não vemos, e que está sob o nível do mar. Alguns casos, entretanto, podem não requerer esse tratamento crônico, de manutenção, se a gravidade do problema é pequena (os chamados casos de asma intermitente), ou quando o único e exclusivo fator desencadeante é o exercício físico, e sua ocorrência não é frequente.
Quando o tratamento crônico, de manutenção ou preventivo de crises, é necessário, ele consiste no uso de medicamentos de acordo com índices clínicos, laboratoriais e funcionais de cada paciente, associados ou não ao uso de imunoterapia (vacinas para alergia), dependendo do quanto os fatores alérgicos são importantes na evolução da doença e na qualidade de vida de cada pessoa em questão. Por isso não existe uma receita de bolo única e aplicável de forma igual no tratamento de todos os asmáticos. É preciso avaliar caso a caso, para se decidir a melhor conduta, e, para isso, essa avaliação deve contemplar uma história clínica e exame físico bem feitos, uma avaliação alérgica (idealmente através dos testes alérgicos feitos na pele pelo médico alergista) e a avaliação funcional pulmonar, quando possível, através do exame chamado espirometria ou prova de função respiratória. Com esses dados é possível então decidir qual a melhor forma de iniciar um tratamento de controle da doença e, regularmente, reavaliá-lo, pois a necessidade de medicamentos pode variar dependendo da estação do ano e pode, inclusive, diminuir progressivamente se a imunoterapia for corretamente indicada e acompanhada, em casos selecionados.
Muito importante no tratamento da asma, seja o de manutenção, seja o das crises, é que o asmático ou os seus pais (no caso das crianças pequenas) saibam : a) identificar precocemente os sintomas de crise; b) saber quais são os medicamentos indicados para a crise e para a manutenção e c) saber usá-los corretamente, já que a maioria é para uso inalatório, ou seja, são administrados diretamente nas vias aéreas para que atuem nos brônquios de maneira rápida, sem efeitos colaterais para o resto do organismo.
Eduardo Costa MD MBA MSc – Alergia e Imunologia Clínica
LEIA TAMBÉM.
CLIQUE AQUI
OBS: O CONTEÚDO DESTE BLOG TEM A FUNÇÃO APENAS DE INFORMAR.
PROCURE UM MÉDICO.
0 comentários:
Postar um comentário