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sábado, 2 de setembro de 2017

Teosofia






Muitos tem como personalidade mais influente e importante Helena Blavatsky, uma das fundadoras da Sociedade Teosófica.


De acordo com os lexicógrafos, o termo teosofia é composto de duas palavras gregas — theos, Deus, e sophos, sábio. Até aqui, correto. Mas as explicações que seguem estão longe de dar uma idéia mais clara sobre a Teosofia. Webster a define mais originalmente como “um suposto intercurso com Deus e espíritos superiores, e conseqüente obtenção de conhecimento super-humano, através de processos físicos, assim como através das operações teúrgicas de alguns antigos Platônicos, ou através de processos químicos dos filósofos do fogo germânicos”.

Vaughan oferece uma definição ainda melhor, mais filosófica. “Um Teosofista”, diz ele, “é alguém que lhe dá uma teoria sobre Deus ou sobre as obras de Deus, a qual não tem revelação, mas uma inspiração própria como base”. Neste ponto de vista, todos os grandes pensadores e filósofos, especialmente todos os grandes fundadores de uma nova religião, escola de filosofia, ou seita, é necessariamente um Teosofista. Daí, Teosofia e Teosofistas têm existido sempre, desde que o primeiro fulgor do pensamento nascente fez o homem procurar instintivamente pelos meios de expressar suas próprias opiniões independentes.

Houve Teosofistas antes da era Cristã, não obstante os escritores Cristãos atribuírem o desenvolvimento do sistema teosófico Eclético à primeira parte do século III de sua era. Diógenes Laércio faz remontar a Teosofia até uma época antes da dinastia dos Ptolomeus, e nomeia como seu fundador um hierofante egípcio chamado Pot-Amun, sendo o nome copta e significando um sacerdote consagrado a Amun, o deus da Sabedoria. Mas a história a apresenta rediviva por Amônio Saccas, o fundador da escola Neoplatônica. Foi o desejo e propósito de Amônio reconciliar todas as seitas, pessoas e nações sob uma fé comum – uma crença em um Poder Supremo e Eterno, Incógnito e Anônimo, governando o Universo com leis imutáveis e eternas. Seu objetivo foi prover um sistema primitivo de Teosofia, que no início era essencialmente semelhante em todos os países; foi também induzir todos os homens a deixar de lado suas contendas e querelas, e unir-se em propósito e pensamento como os filhos de uma mãe comum; purificar as religiões antigas, gradualmente corrompidas e obscurecidas, de toda escória de elemento humano, unindo-as e explicando-as a partir de princípios filosóficos puros. Daí, os sistemas Budista, Vedantino e Mágico, ou Zoroastriano, foram ensinados na Escola Teosófica Eclética juntamente com todas as filosofias da Grécia. Daí também aquela característica preeminentemente Budista e Indiana entre os antigos Teosofistas de Alexandria, com sua devida reverência para com os pais e pessoas idosas; um afeto fraterno por toda a raça humana, e um sentimento compassivo até mesmo para com os animais mudos. Ao mesmo tempo, procurava estabelecer um sistema de disciplina moral que reforçava nas pessoas o dever de viver de acordo com as leis de seus respectivos países; procurava exaltar suas mentes pela busca e contemplação da Verdade Absoluta única; seu objetivo principal a fim de, como ele acreditava, adquirir todos os outros, era extrair dos vários ensinos religiosos, como se de um instrumento de muitas cordas, uma melodia plena e harmoniosa, que encontraria resposta em todo coração amante da verdade.

A Teosofia, portanto, é a Religião-Sabedoria arcaica, a doutrina esotérica uma vez conhecida em todos os países antigos que tinham pretensões de ser civilizados. Esta “Sabedoria” todos os antigos escritos nos mostram como sendo uma emanação do Princípio divino; e a clara compreensão dela é tipificada em nomes como o indiano Buda, o babilônio Nebo, o Toth de Mênfis, o Hermes da Grécia, nas invocações, também, de algumas deusas — Métis, Neitha, Atena, a Sofia gnóstica, e finalmente — os Vedas, originados da palavra “saber, conhecer”. Sob esta designação, todos os antigos filósofos do oriente e ocidente, os Hierofantes do antigo Egito, os Rishis de Aryavart, os Teodidaktoi da Grécia, incluíram todo o conhecimento das coisas ocultas e essencialmente divinas.

A idéia central da Teosofia Eclética era a de uma única Essência Suprema, Incógnita e Incognoscível — pois “como alguém poderia conhecer o Conhecedor?”, como pergunta o Brihadaranyaka Upanishad. Seu sistema era caracterizado por três pontos distintos: a teoria da Essência acima citada; a doutrina da alma humana — uma emanação da última, portanto da mesma natureza; e sua teurgia. Foi esta última ciência que conduziu os Neoplatônicos a serem tão mal-figurados em nossa era de ciência materialista. Sendo a teurgia essencialmente a arte de aplicar os poderes divinos do homem para a subordinação das forças cegas da natureza, seus adeptos foram primeiramente denominados magos – uma corruptela do termo magh, que significa sábio, ou pessoa instruída, e — ridicularizada.

Sobre a Essência Divina e a natureza da alma e do espírito, a Teosofia moderna acredita como o fazia a Teosofia antiga. O Diu popular das nações arianas [do arya – sânscrito – significando nobre, válido, confiável, referindo-se originalmente aos povos antigos da Ásia central que emigraram para a Índia, Irã e Europa – NE] era idêntico ao Iao dos caldeus, e mesmo ao Júpiter dos menos instruídos e filosóficos entre os romanos; e era igualmente idêntico ao Javé dos samaritanos, do Tiv ou Tiusco dos nórdicos, do Duw dos bretões, e do Zeus dos trácios. Sobre a Essência Absoluta, o Um e o todo – seja aceitando a filosofia grega Pitagórica, ou a Cabalista caldéia, ou a ariana – qualquer uma das concepções acima citadas só pode levar à pura e absoluta Teosofia. Todo Teosofista, então, sustentando uma teoria sobre a Deidade “que não tem revelação, mas uma inspiração própria como base”, pode aceitar qualquer das definições acima ou pertencer a qualquer destas religiões, e ainda assim permanecer estritamente dentro dos limites da Teosofia. Pois esta é a crença na Deidade como o TODO, a fonte de toda existência, o infinito que não pode ser compreendido ou conhecido, o universo apenas revelando-A, ou, como alguns preferem, revelando-O, dando-Lhe um sexo, para antropomorfizá-la, o que é uma blasfêmia. Na verdade, a Teosofia foge da materialização brutal; ela prefere acreditar que, eternamente retirado em Si mesmo, o Espírito da Deidade não quer nem cria; mas que, da efulgência infinita em toda parte partindo do Grande Centro, isso que produz todas as coisas visíveis e invisíveis é apenas um Raio contendo em si mesmo o poder de gerar e conceber, o qual, por sua vez, produz aquilo que os gregos chamavam Macrocosmo, os cabalistas, Tikkun ou Adão Kadmon (o homem arquetípico), e os arianos, Purusha, o Brahm manifesto, ou Masculino Divino. A Teosofia também acredita na Anástase, ou existência contínua, e na transmigração (evolução) ou numa séria de mudanças na alma que podem ser defendidas e explicadas em princípios estritamente filosóficos; e isso só ao fazer uma distinção entre Paramatma (alma suprema, transcendental) e Jivatma (alma animal, ou consciente) dos Vedantinos.

Para definirmos completamente a Teosofia, devemos considerá-la sob todos estes aspectos. O mundo interior não foi sempre oculto por trevas impenetráveis. Com aquela intuição superior adquirida com a Teosofia, ou Conhecimento Divino, que levava a mente do mundo das formas para aquele do espírito informe, o homem tem sido às vezes, em todas as eras e em todos os países, capaz de perceber coisas no mundo interior ou invisível. Daí, o “samadhi”, ou Dhyan Yog Samadhi dos ascetas hindus; o “Daimonion-photi”, ou iluminação espiritual dos Neoplatônicos dos místicos e dos mesmeristas e espíritas modernos são idênticos em sua natureza, embora diversos em suas manifestações. A busca pelo “Eu” divino do homem, tão freqüente e erroneamente interpretada como a comunhão com um Deus pessoal, foi o objetivo de todo místico, e a crença em sua possibilidade parece ter sido coetânea à gênese da humanidade, cada povo lhe dando outro nome. “Pela reflexão, autoconhecimento e disciplina intelectual, a alma pode ser elevada à visão da verdade, bondade e beleza eternas, isto é, à Visão de Deus – esta é a Epoptéia”, dizem os gregos. “Para unir-se a alma de alguém à Alma Universal”, diz Porfírio, “requer-se apenas uma mente perfeitamente pura. Através da autocontemplação, castidade perfeita, e pureza de corpo, podemos nos aproximar mais d’Ele, e receber, neste estado, verdadeiro conhecimento e maravilhoso insight”. Assim, enquanto o místico ariano reivindicava por si mesmo o poder de resolver todos os problemas da vida e da morte, quando obteve o poder de agir independentemente de seu corpo, através de Atman (“Eu”, ou “Alma”), e os antigos gregos buscavam Atmu (o Oculto, ou o Deus-Alma do homem, com o espelho simbólico dos mistérios Thesmóforos), da mesma forma os espíritas de hoje acreditam na faculdade dos espíritos, ou as almas das pessoas desencarnadas, de comunicar-se visível e tangivelmente com aqueles que amaram na Terra. E todos estes, Yogis arianos, filósofos gregos e espíritas modernos, afirmam esta possibilidade sobre a base de que a alma encarnada e seu espírito nunca encarnado – o Eu real – não estão separados, seja da Alma Universal ou dos outros espíritos pelo espaço, mas meramente pela diferenciação de suas qualidades; assim como na ilimitada extensão do universo não pode haver limitação. Assim foi com os Yogis de Patanjali, e seguindo seus passos, Plotino, Porfírio e os outros Neoplatônicos, sustentavam que em suas horas de êxtase haviam estado unidos, ou antes se tornavam unos com Deus diversas vezes durante o curso de suas vidas. Esta idéia, errônea como possa parecer em sua aplicação ao Espírito Universal, foi, e é, proclamada por um número grande demais de grandes filósofos para ser posta de lado como inteiramente quimérica. No caso dos Teodidaktoi, o único ponto controverso, a mancha negra em sua filosofia de extremo misticismo, era sua pretensão de incluir aquela que é simplesmente iluminação extática sob a classificação de percepção sensória. No caso dos Yogis, que mantinham sua habilidade de ver Isvara “face a face”, esta pretensão foi derrubada com sucesso pela inflexível lógica de Kapila.

Os Teosofistas Alexandrinos eram divididos em neófitos, iniciados e mestres, ou hierofantes, e suas regras foram copiadas dos antigos Mistérios de Orfeu, que, de acordo com Heródoto, as trouxe da Índia. Amônio obrigava seus discípulos por juramento a não divulgar suas doutrinas mais elevadas, exceto àqueles que fossem provados inteiramente dignos e iniciados, e que tinham aprendido a considerar os deuses, os anjos, e os daimons [gênios tutelares – NT] de outros povos de acordo com a hiponóia esotérica, ou sentido oculto. “Os deuses existem, mas não são o que os 'hoi polloi', a multidão inculta, supõe que sejam”, diz Epicuro. “Não é ateu quem nega a existência de outros deuses a quem a multidão adora, mas o é alguém que sobre estes deuses abraça as opiniões da multidão”. Por sua vez, Aristóteles declara que “a Divina Essência, penetrando todo o mundo da natureza, o que são chamados deuses são simplesmente os seus primeiros princípios”.

Plotino, o discípulo do “teodidacto” [instruído por Deus – NT] Amônio, nos diz que a gnose secreta ou o conhecimento da Teosofia tem três degraus – opinião, ciência e iluminação. “Os meios ou instrumento da primeira são os sentidos, ou a percepção; da segunda, a dialética; da terceira, a intuição. A esta subordina-se a razão, pois é o conhecimento absoluto, fundamentado na identificação da mente com o objeto conhecido”. A Teosofia é a mesma ciência da psicologia, por assim dizer; está em relação à mediunidade natural e não cultivada assim como o conhecimento de alguém como Tyndall está para com o de um estudante colegial de física. Ela desenvolve no homem uma percepção direta; aquilo que Schelling denomina “uma realização da identidade do sujeito e do objeto no indivíduo”; de modo que sob a influência e conhecimento da hiponóia o homem pensa pensamentos divinos, vê todas as coisas como elas realmente são, e, finalmente, “se torna o recipiente da Alma do Mundo”, para usarmos uma das melhores expressões de Emerson. “Eu, o imperfeito, adoro meu próprio Perfeito”, diz ele em seu soberbo Ensaio sobre a Superalma. Além deste estado psicológico, ou anímico, a Teosofia cultiva todos os ramos das ciências e das artes. Quando o ignorante do verdadeiro significado esotérico dos divinos símbolos da natureza, o homem fica sujeito a calcular mal os poderes de sua alma, e em vez de comungar espiritual e mentalmente com os seres superiores, celestiais, os bons espíritos (os deuses dos teurgos da escola Platônica), ele inconscientemente chama pelos poderes do mal, das trevas que espreitam em torno da humanidade – as horrendas e duradouras criações dos crimes e vícios humanos – e assim cai da teurgia (magia branca) na goécia (ou magia negra, feitiçaria). Mesmo assim, nem a magia branca nem a negra são o que a superstição popular entende por estes nomes. A possibilidade de “invocar espíritos” de acordo com a chave de Salomão, e o máximo da superstição e da ignorância. Só a pureza de atos e pensamentos pode nos elevar a um intercurso “com os deuses” e obter para nós o objetivo desejado. É um fato digno de nota que nem Zoroastro, Buda, Orfeu, Pitágoras, Confúcio, Sócrates ou Amônio Saccas deixaram algo por escrito. A razão para isso é óbvia. A Teosofia é uma faca de dois gumes e inadequada para o ignorante ou para o egoísta. Como todas as filosofias antigas, tem seus adeptos entre os modernos; mas até em nossos dias seus discípulos têm sido poucos, e das mais variadas seitas e opiniões. “Inteiramente especulativos, e não fundando nenhuma escola, eles ainda exerceram uma influência silenciosa sobre a filosofia; e sem dúvida, quando chegar o tempo, muitas idéias propostas assim no silêncio podem dar novas direções para o pensamento humano”, assinala Kenneth Mackenzie IX, ele mesmo um místico e Teosofista, em seu grande e inestimável trabalho, a Royal Masonic Cyclopaedia (artigos Theosophical Society of New York e Theosophy, p. 731). Desde os dias dos Filósofos do Fogo, eles jamais se juntaram em sociedades, pois, perseguidos como bestas selvagens pelo clero Cristão, ser conhecido como Teosofista freqüentemente acarretava, há pouco mais de um século [isto foi escrito no fim do século XIX – NT], uma sentença de morte. As estatísticas mostram que durante um período de 150 anos, não menos de 90.000 homens e mulheres foram queimados na Europa sob acusação de feitiçaria. Foi somente tarde neste século (em 1875) que alguns místicos e espíritas progressistas, insatisfeitos com as teorias e explicações do Espiritismo, apresentadas por seus seguidores, e considerando que estavam longe de cobrir todo o campo dos múltiplos fenômenos, formaram em Nova Iorque, na América, uma associação que agora é conhecida largamente como Sociedade Teosófica.

Fonte: http://www.theosophical.ca/theosophical.ws/Portuguese/QueTeosofia.html

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