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segunda-feira, 21 de maio de 2018

Transcendência




Transcendência (do latim transcēndo, is, di, sum, ĕre: 'passar subindo, atravessar, ultrapassar, transpor') é um termo que, em filosofia, pode conduzir a três diferentes - embora relacionados - significados, todos eles originários da raiz latina que significa 'ascender' ou 'indo além', sendo um significado oriundo da filosofia antiga; outro, da filosofia medieval, e o último, ligado à filosofia moderna.



Definição original

O primeiro significado de 'transcendência' (ver também imanência), foi usado primeiramente para se referir à relação de Deus com o mundo e é de particular importância na teologia. Neste caso, transcendente significa que Deus está completamente além dos limites cosmológicos, em contraste com a noção de que Deus é uma manifestação do mundo. Este significado se origina da visão aristotélica de Deus como princípio criador, uma autoconsciência que é externa ao mundo, e no conceito judaico-cristão de Deus como um ser externo ao mundo e que criou o mundo a partir do nada (creatio ex nihilo). Em contraposição a essa ideia, as filosofias de imanência, tais como estoicismo, o espinosismo ou o panteísmo, defendem que Deus é uma manifestação e está totalmente presente no mundo e nas coisas que cercam ao mundo.

Enfoque medieval

O segundo significado, que vem da filosofia medieval, defende que transcendental se encaixa nas categorias de Aristóteles que foram usadas para organizar conceitualmente o conceito de realidade. Os exemplos básicos de transcendental estão presentes (insígnia) nas características designadas transcendentais de unidade, verdade, e bondade.

"Transcendência" na filosofia moderna

Ver artigo principal: Idealismo transcendental

Na filosofia moderna e atual, Kant deu, a transcendental, um novo significado em sua teoria do conhecimento, preocupado com as possibilidades condicionais do próprio conhecimento. Para ele, "transcendental" significa conhecimento sobre a nossa faculdade cognitiva com respeito a como os objetos são possíveis a priori. Isto é, algo é transcendental se tem um papel no modo como a mente "constitui" os objetos e faz possível, a nós, experimentá-los como objetos em primeiro lugar. Normalmente, conhecimento é o saber sobre um objeto; conhecimento transcendental é o saber sobre como é possível, para nós, experimentarmos estes objetos como objetos. Isto se baseia no conceito de Kant sobre o argumento de David Hume de que certas características do objeto (tais como a persistência, relações causais) não podem derivar da impressão que temos deles. Kant argumenta que a mente deve contribuir para estas características e tornar possível, para nós, experimentarmos os objetos como objetos. Na parte central da sua Crítica da Razão Pura, a "Dedução Transcendental das Categorias", Kant argumenta que há uma profunda interconexão entre a habilidade de estar autoconsciente e a habilidade de experimentar o mundo de objetos. Embora, no processo de síntese, a mente gere ambos: a estrutura dos objetos e a sua própria unidade. Para Kant, a "transcendência", se opõem ao "transcendental", é o que jaz além da nossa capacidade de conhecimento legitimamente conhecido. A contra-argumentação de Hegel a Kant foi que, para conhecer a fronteira e estar consciente de que ela é a fronteira, nós já transcendemos a ela.

Em fenomenologia, o "transcendente" é aquilo que transcende a nossa própria consciência - aquilo que é objetivo, mais do que apenas fenômeno da consciência.


Transcendência/transcendente. Do latim transcendere, ultrapassar, superar.  A noção de transcendência opõe-se à de imanência, designando algo que pertence a outra natureza, que é exterior, que é de ordem superior. Nas concepções teístas, p. ex.: Deus é transcendente ao mundo criado. Ver teísmo. 2. Que está além do conhecimento, além da possibilidade da experiência, que é exterior ao mundo da experiência.


Transcendental. 1. Na escolástica, termo utilizado para designar categorias mais gerais que transcenderiam as categorias aristotélicas. Os transcendentais seriam assim o ser, o verdadeiro, o bem e o belo, caracterizando tudo aquilo que é, sendo no fundo aspectos da mesma coisa, o Ser.

2. Na filosofia kantiana, também caracterizada como filosofia transcendental, trata-se do ponto de vista que considera as condições de possibilidade de todo conhecimento. Nesse sentido, não deve ser confundido com o termo “transcendente”. “Chamo transcendental todo o conhecimento que, em geral, se ocupa menos dos objetos do que de nossos conceitos a priori dos objetos. Um sistema de conceitos desse tipo seria denominado filosofia transcendental... Não devemos denominar transcendental todo conhecimento a priori, mas apenas aquele pelo qual sabemos que e como certas representações (intuições e conceitos) são aplicadas ou possíveis simplesmente a priori (“transcendental” quer dizer possibilidade ou uso a priori do conhecimento)” (Kant, Crítica da Razão Pura). 

Caráter de tudo o que ultrapassa uma média. No sentido estritamente filosófico, a transcendência implica uma natureza absolutamente superior às outras, ou de uma ordem radicalmente diferente. É portanto mais particularmente Deus, com relação ao mundo e aos seres imanentes (o que exclui qualquer concepção panteísta). Em Kant é transcendente o que está além de qualquer experiência possível. Na fenomenologia e, depois, no existencialismo, o transcendente caracteriza o que visa a consciência, ou seja, aquilo em direção ao que ela tende ao mesmo tempo que daí permanece distante.


Ref:
(1) JAPIASSÚ, Hilton e MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia. 5.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.

(2) DUROZOI, G. e ROUSSEL, A. Dicionário de Filosofia. Tradução de Marina Appenzeller. Campinas, SP: Papirus, 1993.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Transcend%C3%AAncia_(filosofia)

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